Outro dia quente no deserto, porém você já está acostumado. Mais difícil mesmo é olhar para o sol e não ficar impressionado com o poder de Rá, que dá vida a tudo que toca. Depois de comer alguma coisa é hora de puxar algumas pedras e construir pirâmides, porque afinal de contas o faraó precisa de um lugar para cair morto! Por um momento você pára e imagina aqueles trabalhando na colheita, homens que tem que rezar para Sobek que não deixe que os crocodilos os devorem enquanto se ocupam dos seus afazeres agrícolas às margens do Nilo. No fim das contas, mover alguns pedregulhos para que Anúbis possa fazer do faraó uma múmia show de bola, não parece nada ruim.

No final do dia, exausto, você não perde tempo e vai logo se reunir com os amigos escribas, agricultores e soldados no barzinho pra tomar uma cerveja de trigo enquanto observa o olho de Hórus no céu e escuta o som daquela bandinha com um tocador de alaúde fenomenal e um flautista que usa a escala pentatônica um pouco demais para o seu gosto.

Desconsiderando a veracidade histórica dos parágrafos acima (que os deixa no mesmo patamar de Os Flintstones ou similares), a idéia que quero passar aqui é que para os antigos egípcios a religião tinha um papel importante na sociedade. Importante porque, ela dizia respeito a muitas coisas que pra eles importavam (duh) no dia-a-dia. Apelava-se para os deuses para se ter uma boa colheita, caçada ou para dormir em paz na sua pirâmide mobiliada.

Avançando alguns milênios, chegamos na sociedade atual e eu lhe peço que reflita comigo: a religião (no sentido usual e atual) ainda tem alguma importância? Se pelo menos fossemos devotos da camada de ozônio, dos oceânos, ou dos seres vivos eu até entenderia. No entanto, o deus favorito aqui do ocidente é feito à nossa própria imagem e poderia muito bem ser o nosso psiquiátra, pois passou grande parte do seu tempo preocupando-se com os problemas da humanidade. De fato, até escreveu um best-seller onde nos dá os melhores conselhos, obviamente, porque entre milhões de espécies de seres vivos conhecidos somos o seu favorito.

Talvez você esteja pensando agora, que a humanidade já é grandinha o suficiente para não precisar idolatrar um urso polar e mesmo assim se preocupar com o derretimento das calotas polares e eu sou o primeiro a concordar. Que tal então seguir essa linha de pensamento e imaginar como seria não ter nenhum deus olhando enquanto você está no banheiro e mesmo assim se preocupar em ser honesto, justo e bom com o próximo?

Algum dia juntamente com Anubis, Rá e Osíris teremos mais um deus em nossa coleção.